segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Museu Nacional do Rio de Janeiro


Ontem 2.9.2018 - O Museu Nacional do Rio de Janeiro ardeu inteiro até os escombros. Neste país uma derrota a cada dia. Mariana, o desabamento do prédio do Paiçandu e agora o Museu. Metáforas da nossa falência atual quanto nação: natureza, humanidade e memória/história/ciências/arte.

Dialética envenenada - Resenha e entrevista com Roberto Schwarz, sobre Duas meninas



DIALÉTICA ENVENENADA
Duas meninas na periferia do capitalismo
"Duas Meninas", livro de ensaios do crítico Roberto Schwarz, chega às livrarias no dia 12

FERNANDO DE BARROS E SILVA
especial para a Folha

Um livro ideal para moças bem-comportadas, um presente para cativar estrangeiros, uma obra pitoresca, uma crônica ingênua, leve e encantadora -nada além disso. "Minha Vida de Menina" era até hoje apenas o diário de uma menina mineira de ascendência inglesa, natural de Diamantina, nascida na segunda metade do século passado, que resolveu reunir seus apontamentos adolescentes, feitos entre 1893 e 1894, já quando estava velha, na década de 40. A primeira edição da obra é de 1942.

O relativo desconhecimento do livrinho, a despeito de seu sucesso no exterior, explica-se pelo fato de que sempre foi considerado uma coisa sem importância, um devaneio de uma rapariga que, embora muito esperta e espevitada, nunca poderia pertencer à galeria de autores que formam o esqueleto da literatura brasileira. Dentro de duas semanas, essa imagem cristalizada em torno de "Minha Vida de Menina" vai pelos ares.

Roberto Schwarz, 58, sem publicar desde 1990, quando encerrou (mas nem tanto, como se verá) seu ciclo sobre Machado de Assis lançando "Um Mestre na Periferia do Capitalismo", publica pela Companhia das Letras um livrinho curto, contendo nada mais que dois ensaios, reunidos sob o singelo título "Duas Meninas".

Uma delas, a segunda, é a própria Helena Morley; a primeira é Capitu, a personagem-moça de "Dom Casmurro", a obra máxima da maturidade de Machado de Assis. O primeiro ensaio chama-se "A Poesia Envenenada de Dom Casmurro"; o segundo, "Outra Capitu" -e aqui já começamos a entrar no "x" da questão (leia trechos dos ensaios à pág. 5-8).

Por trás dos apontamentos soltos, da prosa dispersa e "sem intenção de arte" de Helena Morley, Schwarz descobre nada menos do que uma outra Capitu, "vivinha da Silva", uma moça de verdade igual à personagem de Machado.

A despeito da distância entre as obras, elas tornam tangível, para falar como o crítico, o que se poderia chamar de matéria brasileira: "Um conjunto de relações altamente problemático, originário da Colônia, solidamente engrenado, incompatível com o padrão da nação moderna, ao mesmo tempo um resultado consistente da evolução do mundo moderno".

Na entrevista exclusiva que concedeu ao Mais!, Schwarz não entrega o ouro de bandeja, mas deixa subentendido que a primeira consequência disso (há outras, mais invisíveis e venenosas) é que "Minha Vida de Menina" passa a fazer parte do sistema literário brasileiro, ou seja, passa a integrar a formação da literatura brasileira, tal como foi descrita no esquema formulado por Antonio Candido, que não por acaso é seu maior mestre.

Não se trata, veja bem, de uma questão de gosto avulso, de incorporação deste ou daquele autor obscuro ou da expulsão de algum outro escritor consagrado do panteão nacional. A tarefa a que se dedica Schwarz, para falar em jargão, é de incorporar à crítica os dinamismos específicos da experiência brasileira formalmente estruturados na obra.

Em relação a Machado de Assis, os resultados disso são conhecidos há tempos. Desde "A Lata de Lixo da História", peça teatral que parodiava "O Alienista", passando pelas "Idéias Fora do Lugar" e "Ao Vencedor as Batatas", até culminar, com "Um Mestre na Periferia do Capitalismo", na revelação pormenorizada da monstruosidade embutida na conduta de Brás Cubas, tido sempre como um filho-família exemplar da nossa elite paternalista.

Agora, com Helena Morley, Schwarz dá um passo adiante. Para ir logo ao ponto, mesmo correndo o risco de um certo brutalismo, próprio dos jornalistas, o crítico fala do final do século 19 como quem pretende iluminar o final do século 20. A promessa de emancipação de Capitu e Helena Morley que a história brasileira tratou de frustrar, como mostra o crítico, ganha muito se for vista à luz dos dias que correm. Não e à toa que o livro encerra indicando, quase como um ponto de fuga, a continuidade do paternalismo no modernismo brasileiro.

E aqui chegamos à essência do veneno schwarziano. Quando lançou "Um Mestre na Periferia do Capitalismo", em 90, iniciava-se a era Collor, o período recente de maior "crapulização" da classe dominante brasileira. Foi uma coincidência, obviamente, mas basta abrir o livro, por exemplo, no capítulo sobre "A Deseducação de Brás", para ver lá, palpitando nos seus anos de (de)formação, a imagem espectral da delinquência do jovem Collor barbarizando pelas ruas de Brasília.
Agora, em plena era FHC, é difícil acreditar que Schwarz tenha consumido três anos inteiros debruçado sobre Helena Morley sem ter um olho bem plantado sobre o presente. Como Machado de Assis, Schwarz despista seus contemporâneos. É como se estivesse enviando uma mensagem cifrada aos progressistas bem-intencionados de hoje: estamos no limiar de um novo ciclo de modernização conservadora que irá aprofundar os traços do atraso, repondo-os modernamente. Esse é o segredo que Schwarz descobriu nas anotações da menina de Diamantina.

Nada disso está explicitado -e não poderia ser diferente- na entrevista que segue, na qual Schwarz passa a limpo momentos da sua trajetória intelectual.

Talvez num único momento o crítico tenha deixado escapar o alcance impressionante da sua nova cria. Falava não do livro, mas de FHC, elogiando a urbanidade e a clareza com a qual o presidente é capaz de se explicar na televisão, revelando virtualidades inesperadas na profissão de professor. Mas, aí, acrescentou: "É claro que volta e meia o Brasil entra pela janela e transforma em chanchada a aula que ia tão bem". A chanchada que invade a sala do professor nem sempre se chama Íris Rezende. Às vezes podem ser apenas duas meninas, Helena e Capitu.






ENTREVISTA

Folha - O sr. quer explicar o título do livro? Por que "Duas Meninas"? Há ironia na inocência?
Schwarz - Gostaria de ouvir a sua explicação.

Folha - A sua leitura de "Dom Casmurro" é venenosa, e quem preparou o veneno, segundo o sr., foi a história do Brasil. No livro de Helena Morley a atmosfera é mais desanuviada, mas as dificuldades que a mocinha supera decorrem dos mesmos aspectos do Brasil que derrotaram Capitu.
Schwarz - É isso mesmo. A simpatia incrível de Capitu e Helena vem das dificuldades que elas souberam contornar. A envergadura das meninas é proporcional ao alcance das questões que elas enfrentam. Para falar do encanto delas é preciso entrar em matérias sociais que são o contrário de encantadoras.

Folha - O sr. quer comentar a idéia do livro? Ele tem unidade?
Schwarz - Também preferia ouvir o que você achou.
Folha - Algum tempo atrás o sr. contou que as "Duas Meninas" seriam a primeira parte de um livro de crítica em que haveria de tudo, desde orelhas de livro e resenhas até discussões de teoria crítica e argumentos políticos, até um conto sobre a privatização de uma pinguela, com prós e contras. O sr. desistiu da mistura? O título não ia ser "Sempre a Mesma Coisa"?
Schwarz - Desde que haja alguma coisa em comum aos trabalhos, sou a favor desse tipo de mistura, que a especialização acadêmica e o purismo das teorias literárias foram pondo de lado. A crítica que se fechou na literatura e se desinteressou do resto não saiu melhor ou mais científica, nem, aliás, mais artística.

Folha - Mas, então, por que o sr. preferiu um livro com delimitação de assunto? Ele não ficou menos misturado e mais exclusivamente literário?
Schwarz - Os amigos me convenceram de que assim haveria mais foco e que uma eventual discussão sairia ganhando.

O estudo sobre "Dom Casmurro" aponta as forças históricas escondidas na equação formal do romance. Esta, além de detetivesca, é sofisticada ao máximo. O estudo de "Minha Vida de Menina" faz o percurso inverso. Me impregnei o quanto pude dos apontamentos de Helena Morley, que são extraordinários, sem serem propriamente artísticos, e procurei pressentir as suas implicações formais. A sua organização latente retesa um tecido de uma consistência e complexidade de que poucos romances brasileiros podem se gabar.

Forçando um pouco a simetria, de um lado, o estudo social de uma forma; de outro, a apreciação formal de anotações do dia-a-dia em Diamantina, tomadas, como diz Alexandre Eulalio, "sem intenção de arte". Salvo engano, o universo comum que dois livros tão diferentes permitem armar sugere especulações interessantes em vários planos, escapando às banalidades escolares sobre a existência ou inexistência de relações entre literatura e sociedade. Conforme explicava um professor meu, há uma certa reversibilidade própria aos estudos literários, que permite chegar a uma visão aprofundada da realidade a partir da forma, e vice-versa. Seja como for, você vê que o meu livro continua alinhado no campo da mistura.

Folha - Mas o que o sr. entende por mistura? O sr. quer dizer que a turma da pureza, da arte separada, quer discutir questões de forma e de linguagem sem entrar noutras dimensões? Qual o inconveniente?
Schwarz - Nenhum, salvo que, sem estas dimensões ditas "externas", o debate artístico se esteriliza logo. Toda forma é forma de alguma coisa, e na ausência desta relação o essencial vai embora. Observe a mudança atmosférica em volta da revolução formal. No período explosivo, das vanguardas, esta sugeria modos de vida mais complexos e universais, que, de um modo ou outro, estariam para além das pautas burguesas.

Hoje, a pesquisa e o cálculo dos funcionamentos da forma, seja qual for, viraram a rotina da publicidade, sem oposição ao objetivo mercantil. Os próprios efeitos de distanciamento e desautomatização, a marca registrada da linguagem moderna, que ambicionavam sacudir o público e despertá-lo de seu sono histórico, agora servem para aliciar o consumidor ou para impedir que ele troque de canal de TV. Assim, se é que é verdade que nalgum momento a desautomatização, por si só, chegou a significar liberdade ou qualidade, isso já não é o caso.

Folha - Mas o que isso tem a ver com "Dom Casmurro" e Morley?
Schwarz - Como é óbvio, "Minha Vida de Menina" não tem nada de vanguardista. Mas o livro, que, ao contrário de quase tudo, não está velho, fala à simpatia e à insatisfação modernas. Há muitas razões para isso, algumas próximas do kitsch. Mas há outras que são boas. O leitor, desde que se convença da organização muito rica e mais ou menos involuntária presente nas anotações da menina, sente-se chamado a uma atitude de etnólogo amador, atento a todas as conexões possíveis, sem preconceitos, que é um análogo do estado de espírito aberto e alerta que a arte moderna desejou suscitar. Será que me engano imaginando que o nosso interesse é tonificado pelo caráter real dos apontamentos e de sua forma tácita, que não é teleguiada pelo mercado? E se o nexo de realidade for um ingrediente estético peculiar?

Dizendo de outro modo, o motivo atual de simpatia pode estar na forma com vigência ordenadora forte, capaz de grandes revelações, sem que, no entanto, responda a um desígnio de ficção ou de artista. A pesquisa artística dos segredos da forma, da linguagem e da ficção foi levada ao impasse pela sua colonização mercantil, à qual os seus achados aproveitam. É claro que não são os apontamentos de Helena Morley que vão mostrar a saída. Mas a textura relacional tangivelmente infinita dos apontamentos, desprovida de propósitos, mas dotada de âncora real, além de favorável à inteligência e ao espírito crítico, marca uma posição estética (que seria ridículo imitar). Como, no fundo, já não acreditamos em intenções individuais que prestem, uma forma em que estas fiquem em suspenso passa a ter apelo. Como gosta de dizer Helena à mãe dela, "pense e responda".

[Folha. SP.01.06.1997.]

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Busca do narrador por equilíbrio é trunfo de livro de Victor Heringer (Resenha crítica)




Busca do narrador por equilíbrio é trunfo de livro de Victor Heringer

CAMILA VON HOLDEFER 
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No Rio de Janeiro da década de 1970, dois adolescentes se apaixonam. Camilo, narrador de "O Amor dos Homens Avulsos", encontra Cosme, um personagem cativante. O idílio, porém, é precocemente interrompido por uma tragédia. Ao mesmo tempo em que descobre o afeto, Camilo descobre a brutalidade e a injustiça.

Anos depois, em 2014, Camilo rememora o breve intervalo em que amou e foi amado por Cosme –e dá pistas de como os eventos da época, bons e maus, alteraram sua personalidade e seu futuro. Impactado pelo acontecimento trágico que o separa irremediavelmente de Cosme, Camilo passa a catalogar o mundo de um jeito peculiar, identificando padrões e analisando o entorno com algum distanciamento.

Para Camilo, tudo é idêntico, banal e inalterável –apenas Cosme era um ponto fora da curva. É, por um lado, um inventário desapaixonado, que se limita a quantificar e qualificar sem tomar partido. Intercaladas com o texto, imagens ajudam a dar a ideia de um inventário diferente, este afetivo, ligado às lembranças de Cosme. Nascido em 1988, Victor Heringer apresenta uma escrita surpreendentemente madura. O apurado trabalho de linguagem, que evidencia uma noção de ritmo e sonoridade que parece intuitiva, revela uma voz que não fica a dever para os autores mais experientes. O ponto forte do livro, aquele que sustenta a construção do protagonista, é a maneira pela qual o desencanto mede forças com o deslumbramento. Essa busca constante pelo equilíbrio do narrador torna o livro bem-sucedido. Camilo só não soa completamente desiludido porque pode evocar os bons momentos e as boas sensações do passado. Com a lembrança do sentimento por Cosme intacta –ainda que o rosto amado tenha se apagado da memória–, resta em Camilo um resquício de esperança. Embora não seja tão simples, boa parte do dilema de Camilo reside na escolha do que resgatar do passado. De um lado, há o sentimento de ódio e vingança; de outro, a doçura que Cosme transmitiu. É extremamente difícil calibrar essa oscilação sem tornar uma narrativa pueril ou banal.

Com um excelente domínio da linguagem, que é ora violenta, ora quase poética, Heringer consegue se sair bem. O que ele alcança, mais do que a oscilação, é o meio-termo. "Nasci póstumo", diz Camilo em dado momento. Em uma fase de descoberta e expectativa, Camilo foi marcado pela sensação de impotência. Só se é póstumo quando não se tem mais a esperança –o ímpeto que é sobretudo juvenil–de transformar ou conquistar o que quer que seja. A esperança foi negada ao adolescente Camilo, mas não, talvez, ao Camilo de meia-idade. Aos cinquenta anos, surge a possibilidade de outro tipo de afeto, capaz de restaurar aquele Camilo que um dia amou e seguirá amando Cosme. 


O AMOR DOS HOMENS AVULSOS AUTOR Victor Heringer EDITORA Companhia das Letras QUANTO R$ 39,90 (160 págs.)  

O amor dos homens avulsos, de Victor Heringer


"Eu estava comentando hoje mais cedo sobre a surpresa absoluta e deliciosa que foi a chegada do original dele: o Victor conversava com o passado enquanto puxava assunto com o futuro. “O amor…” era de cara um livro de ambiência e prosa muito próximas do leitor de literatura brasileira: uma crônica de saudade ambientada no Rio de Janeiro. Mas tudo isso vinha acompanhado de um approach muito contemporâneo e inventivo, configurando quase uma espécie de happening em torno de Machado, Marques Rebelo e dos cronistas canônicos da cidade. Havia um carinho por uma tradição — a crônica urbana do Rio, a história tragicômica do subúrbio, o ethos de uma sociedade mestiça (em todos os sentidos dessa palavra) — mas filtrado por uma inteligência muito aguda e informada de alguém que cresceu na internet praticando a poesia, o ensaio, o vídeo etc. O romance dele é uma síntese disso. E é um livro amoroso, na amplitude do termo. (Leandro Sarmatz, editor, poeta e escritor, editou o romance “O amor dos homens avulsos”, último livro publicado por Victor Heringer)"



Falei com o Victor Heringer poucas vezes, então não posso dizer nada muito pessoal sobre ele. Ao mesmo tempo, se todo livro tem algo da personalidade do autor – uma parte grande e importante, especialmente se o livro é bom –, falar de literatura não deixa de ser uma intimidade compartilhada. Para quem lê com atenção, muita coisa surge nessas entrelinhas: “O amor dos homens avulsos”, por exemplo, transborda um tipo de inadequação tão trágica (para quem tem de vivê-la na realidade) quanto original (para quem extrai dela a voz necessária para se expressar, na velha e sempre renovada forma romântica). A dicção estranha de algumas frases, a sensibilidade que parece de outra época (antiga como a vida no subúrbio onde se passa a história), um tom vagamente nostálgico/mítico mesmo que contrastado com a brutalidade do presente narrativo: tudo neste romance aponta para uma espécie de ideal de tempo, lugar, linguagem e afetos que não são os que temos aqui e agora. É uma forma sutil de recusa, que soa radical num texto também tão cheio de ternura, e talvez um comentário sobre quem o escreveu – seu passado, seu presente, quem sabe o seu curto futuro. (Michel Laub, escritor)



Conheci o trabalho do Victor Heringer quando me pediram que resenhasse “O amor dos homens avulsos” para a Folha de S.Paulo. Um autor tão jovem, um título com tantas ressonâncias. Vamos lá, pensei. Li o romance em uma tarde, encantada e emocionada. Cada autor, e em especial cada livro, é uma combinação única. Mas aquela era diferente, era singular de um jeito ainda mais específico. Tudo ali era harmonia e afinação, a delicadeza se sobressaindo nos detalhes. Isso é raro, e é ainda mais bonito quando se manifesta em e através de um escritor tão jovem. Havia, e ainda há, e vai continuar a haver, algo ali. Algo muito poderoso. E distinto, inimitável. Em alguma medida, os autores mais talentosos têm sempre esse algo inimitável — que os torna quem são, que os destaca, que os marca para sempre. (Camila von Holdefer, crítica literária)



19 notas sobre Victor Heringer, por Luisa Geisler

19.

    Victor Heringer faleceu dia 7 de março agora. A nota de jornal não dizia a causa, o que explica a causa. Nós nunca nos falamos, mais do que um comentário ou outro em uma rede social. Sua falta não teve nenhum impacto concreto em minha vida. E teve um impacto concreto muito grande na minha vida.



18.

    Como aquelas pessoas que acham que conhecem os autores de forma íntima porque leram seus livros, eu achava que conhecia Victor Heringer de forma íntima. Conhecia Glória e O amor dos homens avulsos. E o Lígia, do projeto Formas Breves. Conhecia as crônicas. Não sei o que conta onde.



17.

    Quase conheci Victor em pessoa uma vez. Eu estava no Rio de Janeiro, ou em São Paulo. E ele também. A gente tinha marcado uma cerveja com mais alguém? Esse mais alguém desmarcou, e aí Victor comentou de um jazz. Não lembro se era jazz. É tão vago. Alguma música. Neguei, porque não sou uma pessoa de jazz. Eu não entendo de jazz. E tenho ansiedade social, grandes aglomerações, ataques de pânico. Acabamos não nos vendo.



16.

    Ele tinha 29 anos, menos de trinta, dois a mais que eu. Por algum motivo, me peguei pensando “mas tão novo…”. Aquelas frases de vó: “mas era um guri tão bom…”. E era. Era um guri tão bom.



15.

    Comentei com minha agente, Marianna Teixeira Soares, sobre ele, porque sabia que ela era muito apegada. Ela disse que eu me apaixonaria. Acho que figurativamente. Mas eu nutria um crush fangirl literário por ele, sim.

14.

    Tem aquela frase de Camus.



13.

    Deve existir uma realidade paralela em que eu entendo de jazz e fui ao jazz e aí nós nos encontramos e falamos sobre ser escritores jovens e aí casamos e tivemos três filhinhos lindos e literários, todos, e viramos um desses casais literários conhecidos tipo José e Pilar.



12.

    Deve existir uma realidade paralela em que eu entendo de jazz e fui ao jazz e aí nós nos encontramos e falamos sobre ser escritores jovens e aí brigamos e aí viramos uns desses inimigos literários conhecidos, tipo Virginia Woolf e James Joyce. Nessa realidade, eu teria um gosto literário diferente.



11.

    Alguém tinha feito uma postagem sobre o livro Primeiro mataram meu pai. Victor tinha sido o tradutor. Victor postou nos comentários que era um dos livros mais pesados que já tinha traduzido. Isso na semana antes do acontecido. 



10.

    Não lido bem com morte. Não lido bem com decidir cessar de existir.



9.

    Uma vez, numa postagem de Instagram, ele postou uma foto que, em um canto, aparecia a caixa da medicação que tomava.  Era uma medicação que eu tomava na época. Pensei em fazer um comentário engraçado, mas fiquei com ansiedade social de que outras pessoas pudessem ver.



8.

Victor é o nome do meu irmão.



7.

    Meu sonho era uma mesa meio-irônica meio estilo aquele post escritores amarelos com ele, a Vanessa Barbara e eu. Algum título de piada meio tosco, tipo “Diferentões: autores dopados com drogas não-recreativas”. Sei lá. Mais escritores deviam falar dessas coisas, eu acho.



6.

    Hoje o Instagram e o Twitter dele estão com tudo deletado.



5.

    Victor é um escritor sagaz. Penso na palavra “sagaz” quando penso na escrita dele. Inteligente, ágil, preciso. Parece atrair com imãs palavras que fico horas buscando no Thesaurus. Pra mim, é aquela literatura meio viagem turística, dessas que você não se importa com aonde vai chegar, você está ali pela viagem. Só me conta uma história, e cada frase é uma história em si.



4.

    Não sei sobre o Facebook porque não tive coragem de acessar.



3.

    Porque esse texto é mais sobre mim do que ele. Sei que estou objetificando Victor de certa maneira, idealizando, pois nunca o conheci em pessoa. Como comentei, nunca fui ao jazz. Essas pessoas o conheceram. Mas eu conheci um escritor. Escritor que fará muita falta.



2.

    Que possa descansar, enfim. Honro a memória dele buscando mais de suas poesias, que não conhecia. E saúdo o autor, que eu conhecia. Este me recuso a perder.



1.

    Fui entrar no site oficial dele, que ainda está no ar, para conferir a idade. A imagem de topo, uma foto dele, se mexe, é um gif. Só que enquanto a foto estava em baixa resolução, ela não se moveu. Até terminar de carregar. Aí, enquanto eu procuro a data de nascimento, Victor Heringer pisca enquanto parece engolir em seco.

* * * * *
Luisa Geisler nasceu em Canoas (RS) em 1991. Publicou Contos de mentira (finalista do Jabuti, vencedor do Prêmio SESC de Literatura), Quiçá (finalista do Prêmio Jabuti, do Prêmio São Paulo de Literatura e do Prêmio Machado de Assis, vencedor do Prêmio SESC de Literatura). Seu último livro, Luzes de emergência se acenderão automaticamente, foi publicado pela Alfaguara em 2014. Tem textos publicados da Argentina ao Japão (pelo Atlântico) e acha essa imagem simpática.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Machado resenhado na THE NEW YOURKER

Bruxo do Cosme Velho escrevia literatura de apelo universal em vez de descrever a terra exótica imaginada pelos estrangeiros

Machado de Assis é um dos maiores escritores da língua portuguesa, e reconhecido por muitos críticos estrangeiros como um dos grandes nomes da literatura mundial. Por que então ele não é tão famoso mundialmente quanto outros autores, como Kafka ou García Marquez?

A nonagenária revista americana The New Yorker oferece uma explicação. Segundo o crítico Benjamin Moser, Machado de Assis não atraiu leitores estrangeiros justamente porque oferecia uma literatura de apelo universal e concentrada na vida de elites do Rio de Janeiro, em vez das criaturas folclóricas ou paisagens exóticas associadas ao nosso país.

Não existia imprensa no Brasil até 1808, quando chegou a família real portuguesa. “Um país inteiro não podia pensar por si próprio”, escreve Moser. Como em vários outros países das Américas, muitos escritores nascidos logo após a Independência buscaram motivos indígenas para formar uma consciência nacional – como foi o caso de Gonçalves Dias e José de Alencar. Ainda nessa época, muitos estrangeiros pensavam no Brasil como um paraíso tropical intocado, cheio de nobres selvagens.

Esse não era o caso da obra de Machado de Assis, com sua crítica social implícita, sua comédia humana universal e suas alusões à literatura europeia, que consumia vorazmente.  Para Moser, Machado de Assis era “irônico demais, pernicioso demais”. O autor carioca conseguia dizer as coisas mais ultrajantes “com imperturbável elegância e compostura” em histórias sobre a elite do Rio de Janeiro. Seus livros ajudam a enxergar que “o Brasil sempre foi, para o bem e para o mal, plenamente parte do Ocidente”.

terça-feira, 24 de julho de 2018

Lula Livre/Lula Livro, antologia de Marcelino Freire e Ademir Assunção


A antologia Lula Livre – Lula Livro será lançada neste sábado (28), durante o Festival Literário em Paraty, no Rio de Janeiro. Organizada pelos escritores Ademir Assunção e Marcelino Freire, a obra conta com produções de diversos autores, como Xico Sá, Frei Betto, Alice Ruiz, Augusto de Campos, Raduan Nassar, Chico Buarque, Aldir Blanc, Chacal, Caco Galhardo, Marcia Dense, Noemi Jaffe, Gero Camilo, Raimundo Carrero, Eric Nepomuceno, Chico César, Laerte, entre outros.

Ao todo são 86 escritores e cartunistas de todo o país que colaboraram com o livro-manifesto. Cartuns, poemas, contos e crônicas compõem a produção, que se integra à luta popular pela liberdade do ex-presidente.

Segundo os organizadores Ademir Assunção e Marcelino Freire a publicação manifesta o inconformismo dos autores, “que consideram a prisão de Lula uma aberração jurídica-política-midiática, com o objetivo maior de tirá-lo das eleições presidenciais deste ano, no tapetão, na cara-dura”.

“Fazia muito tempo que os escritores não tomavam um posicionamento conjunto tão vigoroso. Os descalabros que estão acontecendo no país desde o golpe de 2016 é que criaram a necessidade dessa manifestação político-literária”, afirmaram Ademir e Marcelino.

O livro-manifesto contará também com um site que incluirá todas as publicações inseridas na antologia, além de ter o PDF da obra divulgado.

Estão sendo planejadas, junto com os movimentos sociais, uma série de ações para divulgar e repercutir o livro em todo o Brasil e no exterior.


"Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho,
Não no dá a Pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza."

(Camões)

Joseph K., o conhecidíssimo personagem de Franz Kafka, se vê enredado em um processo judicial cujas origens desconhece e cujo desenrolar vai se tornando cada vez mais obscuro, sórdido e absurdo. 

O processo que assistimos no Brasil contemporâneo, contra uma figura pública central da história política dos últimos 40 anos, guarda semelhanças e dessemelhanças com o enredo kafkiano: se o seu desenrolar expõe uma lógica absurda, suas origens e fins são muito delineáveis.

Travestido com togas cheias de furos e remendos, simulação grosseira dos ritos legais que deveriam nortear a Justiça (com J maiúsculo), ele obedece a princípios e a um calendário com objetivo calculado: eliminar da disputa presidencial de 2018 o candidato com mais chances de vitória.

Orquestrado sob o pretexto de combate à corrupção – combate sempre bem-vindo e necessário – sua utilização camufla, porém, objetivos maiores: barrar as mudanças significativas que estavam em curso no país – muitas delas resultantes de demandas seculares –, principalmente a mais significativa, mas não a única: a retirada de 36 milhões de brasileiros do cinturão de miséria, através de políticas, programas e investimentos sociais reconhecidos e valorizados internacionalmente.

Como já visto em outros momentos da história recente, sob os mesmos pretextos e com métodos semelhantes, o que se concretiza é um golpe contra os interesses da maioria da população, para manter os privilégios de uma minoria.

Basta verificar que, logo após a consolidação da primeira etapa do golpe, uma das medidas aprovadas pelo Congresso Nacional foi a reforma trabalhista, que retira direitos históricos dos trabalhadores e agudiza ainda mais a crônica desigualdade socioeconômica brasileira.

É nesse contexto que surge este livro-manifesto. Mais do que um documento literário, o que se pretende é um documento claramente político, com as armas que os autores utilizam em seu fazer criativo: poemas, contos, crônicas, ensaios e cartuns. 

Os 90 poetas, prosadores e cartunistas aqui reunidos – de todas as regiões do país – atenderam ao chamado, na urgência dos fatos em curso no Brasil, para manifestar seu inconformismo com a prisão política do ex-Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. 

Em um prazo curto, de poucas semanas, autores “que consideram a prisão de Lula uma aberração jurídica-política-midiática, com o objetivo maior de tirá-lo das eleições presidenciais deste ano, no tapetão, na cara-dura”, conforme consignado no texto-convite enviado a cada um deles, fizeram questão de levantar a voz e enviar suas colaborações inéditas em livro.

O título é uma clara tomada de posição de todos os autores pela liberdade de Lula, mas a temática dos poemas, contos, crônicas e cartuns vai além: em rápidas pinceladas, determinadas pela urgência da iniciativa, procura manifestar o descontentamento com as mazelas de um país massacrado pela histórica e brutal desigualdade socioeconômica, e pelo retrocesso social, político, cultural e mental representado pelo golpe de 2016, quando a presidente Dilma Rousseff, eleita por 54.501.118 brasileiros, foi destituída através de uma manobra orquestrada por setores políticos, jurídicos e midiáticos, a pretexto de prosaicas e já esquecidas “pedaladas fiscais”.

O ódio abertamente fomentado na população por grande parte dos meios de comunicação de massa, o cinismo de acusações generalizadas, muitas vezes disparadas por notórios personagens aviltantes, e o escárnio com as regras do jogo democrático, manipuladas ao bel prazer de interesses obscuros, repetiram uma liturgia já vista em outros momentos históricos do Brasil, posta em prática sempre que se procura uma ordenação mais justa na vida social e econômica do país. 

O propósito deste livro, portanto, é o de unir as vozes destes autores aos movimentos nacionais – e até mesmo internacionais – contra a farsa da prisão do ex-Presidente Lula, e contra a continuidade do golpe anti-democrático representado por sua exclusão do processo eleitoral de 2018.

Pelo fim da prisão política de Luiz Inácio Lula da Silva; pelo direito dos eleitores votarem – ou não – em sua candidatura para a Presidência da República; pelo retorno do Brasil à normalidade democrática, é que se deve a existência deste Lula Livro.

Ademir Assunção / Marcelino Freire

LISTA COMPLETA DOS AUTORES

ADEMIR ASSUNÇÃO * ADEMIR DEMARCHI * ADRIANE GARCIA * AFONSO HENRIQUES NETO * ALBERTO LINS CALDAS * ALDIR BLANC * ALICE RUIZ * ANDRÉA DEL FUEGO * ANTONIO THADEU WOJCIECHOWSKI * ARTUR GOMES * AUGUSTO DE CAMPOS * AUGUSTO GUIMARAENS CAVALCANTI * BEATRIZ AZEVEDO * BERNARDO VILHENA * BINHO * CACO GALHARDO * CARLOS MOREIRA * CARLOS RENNÓ * CELSO BORGES * CELSO DE ALENCAR * CHACAL * CHICO BUARQUE * CHICO CÉSAR * CLAUDIO DANIEL * DIANA JUNKES * DOUGLAS DIEGUES * EDMILSON DE ALMEIDA PEREIRA * EDVALDO SANTANA * ELTÂNIA ANDRÉ * ERIC NEPOMUCENO * EVANDRO AFFONSO FERREIRA * FABIO GIORGIO * FABRÍCIO MARQUES * FERNANDO ABREU * FERRÉZ * FLÁVIA HELENA * FREI BETTO * GERO CAMILO * GIL JORGE * GLAUCO MATTOSO * JESSÉ ANDARILHO * JOCA REINERS TERRON * JORGE IALANJI FILHOLINI * JOSELY VIANNA BAPTISTA * JOTABÊ MEDEIROS * JUVENAL PEREIRA * KAREN DEBÉRTOLIS * LAERTE * LAU SIQUEIRA * LINALDO GUEDES * LÍRIA PORTO * LUCAS AFONSO * LUCIANA HIDALGO * LUIZ ROBERTO GUEDES * MANOEL HERZOG * MARCELINO FREIRE * MÁRCIA BARBIERI * MÁRCIA DENSER * MAURÍCIO ARRUDA MENDONÇA * NOEMI JAFFE * PATRÍCIA VALIM * PAULINHO ASSUNÇÃO * PAULO CÉSAR DE CARVALHO * PAULO DE TOLEDO * PAULO LINS * PAULO MOREIRA * PAULO STOCKER * PEDRO CARRANO * RADUAN NASSAR * RAIMUNDO CARRERO * RICARDO ALEIXO * RICARDO SILVESTRIN * ROBERTA ESTRELA D’ALVA * RODRIGO GARCIA LOPES * RONALDO CAGIANO * RUBENS JARDIM * SANDRO SARAIVA * SEBASTIÃO NUNES * SERAPHIM PIETROFORTE * SÉRGIO FANTINI * SÉRGIO VAZ * SIDNEY ROCHA * SUSANNA BUSATO * TARSO DE MELO * TEO ADORNO * VANDERLEY MENDONÇA * WALDO MOTTA * WELLINGTON SOARES * WILSON ALVES BEZERRA * XICO SÁ

Desenho da capa por Sandro Saraiva

O conto de Machado de Assis

Machado de Assis
Contos do Bruxo do Cosme Velho demonstram a profundidade da literatura do autor
       
Caio Sarack*, O Estado de S.Paulo

21 Julho 2018 | 16h00

Wilhelm Reich (1897-1957) foi um dos maiores pensadores alemães do século 20 e, na obra Psicologia de Massas do Fascismo (1933), ponderou que o dever da psicologia social era explicar “não por que motivo o esfomeado rouba ou o explorado faz greve, mas por que motivo a maioria dos esfomeados não rouba e a maioria dos explorados não faz greve”. Em meio à difusa coerção social, compreendem-se os motivos pelos quais trazemos ordem à desordem mesmo que isso nos custe a própria vida ou a de outro? Se as muitas páginas de psicologia e de ciências sociais parecem colidir e se contrapor, deixando-nos à deriva no mar revolto da sociabilidade e da relação com sujeitos estranhos a nós, a literatura parece funcionar como um machado que rompe a duríssima película que represa nosso rio. 

+Peça mescla contos homônimos de Machado de Assis e Guimarães Rosa.


Marc Ferrez
Mulher negra com criança branca fotografada na Bahia, em 1860. Foto: Marc Ferrez/Acervo IMS
+As polêmicas e interpretações opostas suscitadas pela obra de Machado de Assis

Podemos encontrar um sumo exemplar desse objeto cortante em Pai Contra Mãe e Outros Contos (Editora Hedra), de Machado de Assis, antologia organizada por Alexandre Rosa, Flávio Ricardo Vassoler e Ieda Lebensztayn, que também assinam o ensaio no prefácio da edição: Os Inimigos do Homem Serão as Pessoas de sua Própria Casa: Crítica e Apologia Sociais em Pai Contra Mãe.

“Como um obstetra que nos dá as boas-vindas a este mundo com um tapa que nos faz chorar – bem-vindos ao nosso vale de lágrimas –, o narrador machadiano de Pai Contra Mãe rasga o ventre de seu conto sentenciando que ‘a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel’”. Imaginar a figura negra e epilética de Machado em meio à violência escravista à brasileira ligando-a ao cinismo do narrador que erode a vida psíquica das personagens nos dá a dimensão da profundeza produzida pela literatura; sociedade e subjetividade, convicções morais e utilitarismo se mesclam às palavras, antes ascéticas de dicionário, em meio ao realismo de Machado de Assis.

Vejamos o caso de Pai Contra Mãe: Candinho está prestes a sacrificar a vida de seu filho, de quem até então Nossa Senhora não conseguiu garantir a subsistência, quando avista a escrava fugida Arminda, que o salvaria – mas não só de pragmatismo vive o homem, mas de toda convicção que cimentará as ações em seu coração. Candinho lega o aborto que cometeria à escrava. “A vida de meu filho e a de seu filho têm uma diferença que não consegue mais ser descrita só ao apontarmos o pronome possessivo, é a materialidade daquilo que é do outro diante daquilo que é – íntima e irrevogavelmente – meu.”

Ao enunciar esse abismo, o narrador expõe tanto o vínculo umbilical que todos temos com aquilo que é nosso quanto o modo como esse inofensivo pronome permite que separemos os mortos deles dos nossos vivos. Entendemos que Candinho está emparedado e quer salvar sua criança. Ele, no entanto, precisa envolver seu amor com uma forte película a fim de que o amor da escrava-mãe não o faça desistir diante da empatia que, como pai, teria para com o filho alheio: o amor só é possível se for devidamente hierarquizado, não há espaço para todos, porque o espaço é escasso; não há pão para todos, porque o pão é escasso, não há vida para todos, porque “nem todos vingam”. Machado de Assis inocula no utilitarismo o seu próprio veneno – e se o homem, ao buscar o maior prazer de que pode dispor, anula a própria convivência com o outro? 

Não podemos supor a simples idiotia dos filósofos utilitaristas, e aqui faço menção à palavra “idiotia” em seu sentido preciso: ao apostar na perseguição individual dos homens de seu bem-estar, não se anula ou aniquila seu caráter social, o Utilitarismo estabelece o indivíduo como o material primeiro e inequívoco da vida social, dizendo que esta mesma vida será tanto mais justa quanto mais o fundamento individual for protegido, e em nenhum momento suprime a necessidade das relações sociais. Mas vemos que, quando aceitas, as prescrições assumem as mais interessantes e materiais conformações (e nos sorri o narrador do conto) no mundo social.

A ironia do autor e os parágrafos que formam um corpo de texto aparentemente neutro e distanciado escancaram a violência como resultado de uma interação entre o cálculo da vida social e a verdade subjetiva do pai Candinho. “Cândido Neves, beijando o filho, entre lágrimas, verdadeiras”, o sentimento do pai não se corrompe, muito pelo contrário: a certeza do abismo que há entre o meu filho e o seu filho pode garantir a tranquilidade de quem pertence ao grupo dos vivos e daqueles que não foram feitos para serem proscritos, e, ao mesmo tempo e sobre o mesmo aspecto, Candinho “abençoava a fuga e não se lhe dava do aborto. – Nem todas as crianças vingam – bateu-lhe o coração”. Os sulcos que a literatura deixa na capa de gelo que cobre o rio da vida socialmente administrada liberam os pulsos que antes éramos incapazes de enxergar.

*Caio Sarack é mestre em filosofia pela FFLCH/USP e professor do Instituto Sidarta e do Colégio Nossa Senhora do Morumbi 

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Pá, Pá, Pá, Pá, Pá, Pá


Pá, Pá, Pá, Pá, Pá, Pá

Toda vez que eu leio um livro, eu me lanço. É. Eu caio. Pois é. Eu salto alto. Não quero nem saber. Escangalho o pé Confortável tem de ser a cama, não a leitura. Eu sempre penso isso da Literatura. Eu aprendi isso na marra. Gosto de livro que me dá tapa na cara. Cada página, um tapa. Pá, pá, pá, pá, pá palavra. E essa a minha guerra. Uma pauleira os parágrafos. E é assim que eu escrevo também, que eu tento escrever. Descrever o mundo. E não venham me dizer que eu escrevo sobre violência. Escrevo “sob” violência. Essa é a minha dança. E contradança também. Meu livro de contos BaléRalé foi meio isso. Esta vingança que eu falei. O livro foi publicado pela Ateliê Editorial em 2003. E agora chega esta peça de mesmo nome. Desde o ano passado que entrou em temporada essa encenação do premiado grupo carioca Teatro de Extremos. É de tremer. Eu próprio, sabendo o que escrevi, tremi. Porque cada ator ali sente o que está dizendo. A gente não escreve só com as mãos. É com o corpo inteiro. E a encenação é esse espelho de mim. Um espetáculo de corpo inteiro, bem brasileiro. A gente, todo mundo enforcado na corda-bamba. No limite entre a vida e morte. A gente é forte. Depois de um livro, a gente se sacode. Depois de uma peça assim a gente sobrevive. A arte faz isso. Não é acordar do sono, a saída é despertar. O que procuro, quando vou aos livros, é este movimento. No teatro também, cada um com seu formigamento. Meu muito obrigado, queridos Parceiros-Extremos.

Marcelino Freire (no encarte da peça BaléRalé)

domingo, 24 de junho de 2018

ENTREVISTA COM PAULO Tonani sobre literatura contemporânea (Folha)



PAULO ROBERTO TONANI DO PATROCÍNIO

professor colaborador do Programa de Pós- Graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade da PUC-Rio e autor do livro "Escritos à Margem, a Presença de Autores de Periferia na Cena  Literária Brasileira" (FAPERJ/7Letras)

23/02/2014


É possível apontar tendências da produção literária contemporânea?

Todo olhar crítico que se debruça sobre a produção literária contemporânea busca antes de tudo identificar uma linha comum que possa aproximar autores e produções para além da própria relação temporal. Este esforço crítico resultou na constatação de certas tendências. A primeira é a observação da recorrência de uma escrita ficcional calcada na própria experiência do sujeito autoral, que borra as fronteiras entre a biografia e a ficção, se fixando neste interstício. É forte esta tendência e podemos nomeá-la como uma escrita de si ou autoficional, por trazer em seu corpo elementos do discurso biográfico a partir de uma espécie de pacto ficcional. Outra importante tendência é a produção literária que se volta para a tematização da violência urbana por meio de uma prosa ágil que busca representar o cotidiano das populações marginalizadas. Neste ponto, ganha destaque o fenômeno mais específico que é o da Literatura Marginal. Uma literatura que é produzida por autores residentes na periferia e que retratam esta realidade na prosa e poesia. Por fim, ao analisarmos a produção contemporânea também localizamos um importante sintoma que é o esvaziamento do desejo de representar o Estado-Nação em sua totalidade. Nos parece que não há mais espaço para este tipo de narrativa. De uma narrativa fundacional da nação. Quando se narra a nação, ela é narrada em fragmentos e não em sua totalidade. Fica patente que os discursos ficcionais que oferecem uma imagem da nação enquanto um organismo holístico estão encapsulados no passado.


Quais seriam suas principais qualidades e deficiências?

A principal qualidade da literatura brasileira contemporânea é sua a multiplicidade. Multiplicidade de temas, procedimentos estéticos e, principalmente, de autores. É claro que ainda temos um predomínio de autores se tomarmos como referência o número de escritoras. Mas um importante elemento da literatura contemporânea é a presença de novos sujeitos da enunciação por meio da Literatura Marginal, com a publicação de autores negros e moradores de periferia. 

A Feira de Frankfurt e os programas da política do livro mantidos pelo governo (bolsas de tradução, bolsas de criação, criação de festivais) trouxeram resultados significativos para a produção artística?

Não tenho como avaliar.

A perspectiva de aceitação no mercado exterior norteia de alguma forma o tipo de literatura que se está produzindo? O jovem autor escreve pensando no exterior?

Não creio que o desejo de publicar no exterior seja um elemento norteador da produção de um jovem autor. Além disso, caberia elaborar a questão de outra forma. O que o exterior espera de um jovem autor brasileira? O mercado internacional espera uma literatura que ofereça a cor local, representando traços de uma identidade nacional ou o próprio território? Essa questão impulsionou um rico debate em parte da literatura latino americana a partir da publicação do volume de contos "McOndo", organizada por Alberto Fuguet. O grupo de autores desejou romper com o realismo mágico de García Márquez e oferecer uma imagem da América Latina moldada pela cultura pop ocidental. No entanto, não observo esse tipo de preocupação com os autores brasileiros.

Existe uma "globalização" dos temas?

Não tenho como responder.

A literatura contemporânea inova em algum sentido? Ela renova formas, gêneros? Como?

O senso comum espera que o presente, o contemporâneo, consiga romper com o passado e criar o novo. A modernidade se baseia nesse tipo de percepção, que o presente é necessariamente o novo. No entanto, a própria crítica tem observado que a prosa contemporânea não se funda na busca pelo novo. A publicação do volume de ensaios "O Futuro pelo Retrovisor", de Giovanna Dealtry, Stefania Chiarelli e Paloma Vidal comprova isso. Os textos críticos reunidos no volume examinam obras literárias contemporâneas que estão ancoradas em procedimentos, temas e inquietudes formadas no passado. O olhar para o futuro está direcionado para o retrovisor, sendo necessário retornar a modelos do passado. Um belo exemplo disto é o romance "Passageiro do Fim do Dia", de Rubens Figueiredo. O romance apresenta um diálogo com o naturalismo cientificista do século 19 e coloca Charles Darwin como uma espécie de interlocutor do protagonista por meio da leitura que o personagem faz dos diários do pesquisador inglês. O naturalismo, uma importante referência estética e ideológica de nossa literatura, passa na contemporaneidade a ser lido de outra forma.

Existe ainda no Brasil literatura "regional"? A origem geográfica é determinante na literatura que se produz?

Não tenho como responder.

A literatura produzida atualmente no país é política?

A literatura produzida é política. Na realidade, é necessário afirmar que a literatura é uma atividade política. Mesmo que o autor busque de forma inocente afirmar que não produz uma literatura política, o próprio ato de escrever e assinar uma obra, colocando-se como autor de um volume de páginas, é um ato político. E a proposta de engajamento a partir da literatura é uma característica relevante para a crítica que deve ser analisada também em sua dimensão extraliterária. A chamada autoficção, voltada para o próprio eu, para a própria experiência, parece ser um dos mais fortes motes da produção literária dos últimos anos. 

Alguns estudos apontam uma exacerbação da subjetividade, que seria vista como um valor de autenticidade. Como avalia essa questão? Quais implicações disso na literatura brasileira?

Há no cenário contemporâneo um predomínio de obras que podem ser nomeadas como autoficcionais. No entanto, a classificação destas obras como autoficção em alguns casos obedece primeiramente o impulso do crítico que busca localizar no próprio ato de leitura indícios da "presença" do autor no universo ficcional construído no interior da obra. No entanto, é possível observarmos casos opostos em que o próprio autor busca rasurar essas fronteiras entre biografia e ficção. O caso mais exitoso é o de Ricardo Lísias, com a publicação de "Divórcio".

A literatura, se voltada para o eu, para a própria experiência, pode ser política?

"Divórcio", de Ricardo Lísias, é a prova de que um texto formado a partir de um explícito pacto autoficional pode ser um texto altamente político e significativo para alcançarmos uma bela representação da classe média contemporânea. Se no ato de leitura não lançarmos nossa atenção para os elementos biográficos do autor, não tratando-o como um Roman à clef, estamos diante de uma contundente representação da classe média paulistana, expondo a partir de um olhar de dentro a apatia política de seus membros.

Como as formas de interação via redes sociais se manifestam na literatura que se produz hoje?

Não posso responder.

Existe uma desagregação do romance como forma convencional – pela fragmentação, pela intervenção gráfica?

Luiz Ruffato, em "eles eram muitos cavalos", discutiu de forma extenuante essa questão. O autor afirma que para narrar uma megalópole como São Paulo foi necessário criar um novo modelo de representação e construção do romance. A estrutura linear não suporta as muitas vozes que estão presentes em uma cidade como São Paulo, o fragmento e a agilidade são os recursos possíveis para representar a cidade. No entanto, isso não invalida o romance enquanto forma. O romance acaba sendo reestruturado a partir do uso que os escritores oferecem. Um exemplo é a publicação do esperado romance de Marcelino Freire "Nossos Ossos". O autor domina a prosa curta e especializou-se em contos, criando um modelo próprio para o gênero. Ao publicar "Nossos ossos", seu primeiro romance, o autor não se submeteu ao romance enquanto gênero, mas sim submeteu o romance aos seus experimentos construídos no espaço do conto.

Antologias, coletâneas temáticas, seletas de escritores e outras iniciativas que partem do mercado editorial são frutíferas? Beneficiam a produção?

Sem dúvida. Não apenas beneficiam a produção, mas também surgem como objetos de pesquisa e de interesse da crítica. Um exemplo é a coleção "Amores expressos". Com o simples gesto de convidar autores para criarem narrativas de amor em diferentes capitais do mundo, a coleção lançou uma série de questões que interessam aos críticos. A antologia editada pela Granta também nos permitiu conhecer o perfil esperado e desejado pelos editores da revista para a imagem do jovem escritor brasileiro. 

As oficinas de criação literária, que abundam nos últimos anos, "moldam" a literatura que se produz hoje?

Não tenho como responder.

Que espaço tem a poesia hoje, na produção e no mercado? Pode ganhar mais espaço após o sucesso surpreendente da edição da poesia completa de Leminski no ano passado?

Não tenho como responder.


FONTE AQUI
ILUSTRÍSSIMA

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2014/02/1415847-respostas-de-paulo-roberto-tonani-do-patrocinio.shtml

terça-feira, 19 de junho de 2018

Aniversário de Chico Buarque e um texto de Caetano



"O Brasil é capaz de produzir um Chico Buarque: todas as nossas fantasias de autodesqualificação se anulam. Seu talento, seu rigor, sua elegância, sua discrição são tesouro nosso. Amo-o como amo a cor das águas de Fernando de Noronha, o canto do sotaque gaúcho, os cabelos crespos, a língua portuguesa, as movimentações do mundo em busca de saúde social. Amo-o como amo o mundo, o nosso mundo real e único, com a complicada verdade das pessoas. Os arranha-céus de Chicago, os azeites italianos, as formas-cores de Miró, as polifonias pigmeias. Suas canções impõem exigências prosódicas que comandam mesmo o valor dos erros criativos. Quem disse que sofremos de incompetência cósmica estava certo: disparava a inevitabilidade da virada. O samba nos cinejornais de futebol do Canal 100, Antônio Brasileiro, o Bruxo de Juazeiro, Vinicius, Clarice, Oscar, Rosa, Pelé, Tostão, Cabral, tudo o que representou reviravolta para nossa geração foi captado por Chico e transformado em coloquialismo sem esforço. Vimos melhor e com mais calma o quanto já tínhamos Noel, Haroldo Barbosa, Caymmi, Wilson Batista, Ary, Sinhô, Herivelto. A Revolução Cubana, as pontes de Paris, o cosmopolitismo de Berlim, o requinte e a brutalidade de diversas zonas do continente africano, as consequências de Mao. Chico está em tudo. Tudo está na dicção límpida de Chico. Quando o mundo se apaixonar totalmente pelo que ele faz, terá finalmente visto o Brasil. Sem o amor que eu e alguns alardeamos à nossa raiz lusitana, ele faz muito mais por ela (e pelo que a ela se agrega) do que todos nós juntos.” 

domingo, 17 de junho de 2018

O vazio do domingo, de Ramon Salazar


Abandonada aos 8 anos, mulher descobre o paradeiro da mãe e a obriga a permanecer dez dias com ela. a partir disso, neste filme cheio de silêncio, simbolismo e grandeza. Uma lindeza. 

domingo, 10 de junho de 2018

O dia em que eu deveria ter morido, de Javier Aranbia Contreras


Os Melhores Jovens Escritores Brasileiros segundo a revista GRANTA

Os Melhores Jovens Escritores Brasileiros segundo a revista GRANTA




Cristhiano Aguiar, da Paraíba
Javier Arancebia Contreras, de Salvador, de família chilena
Vanessa Barbara, de São Paulo
Carol Bensimon, de Porto Alegre
Miguel del Castilho, nasceu no Rio de Janeiro de pai uruguaio
João Paulo Cuenca, do Rio de Janeiro
Laura Erber, do Rio de Janeiro
Emilio Fraia, de São Paulo
Julian Fuks, de São Paulo
Daniel Galera, de São Paulo, mas morador de Porto Alegre
Luiza Geisler, de Canoas, mais nova, nasceu em 1991
Vinícius Jatobá, do Rio de Janeiro
Michel Laub, de Porto Alegre
Ricardo Lísias, de São Paulo
Chico Mattoso, nasceu na França, mas cresceu em SP
Antônio Prata, de São Paulo
Carola Saavedra, nasceu no Chile, mora no Rio
Tatiana Salem Levy, do Rio de Janeiro
Leandro Sarmatz, do Rio Grande do Sul
Antônio Xerxenesky, do Rio Grande do Sul



Cristhiano Aguiar nasceu em Campina Grande, Paraíba, e formou-se em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco. Tem 31 anos. Em 2006, publicou o livro de contos "Ao lado do muro" (Dinâmica) e em 2007 venceu o Prêmio Osman Lins de contos. Lançou, em 2010, durante a FreePorto (PE), o folheto de narrativas "Os justos", em edição artesanal pela Moinhos de Vento. É colaborador do suplemento literário Pernambuco. Editou a revista de arte e cultura pop Eita! (http://issuu.com/revistaeita) e a revista literária Crispim (www.revistacrispim.com.br). Foi curador e coordenador do Festival Recifense de Literatura e coorganizou a antologia de contos "Tempo bom" (Ed. Iluminuras). Atualmente trabalha em seu primeiro romance e em ensaios sobre literatura brasileira contemporânea. “Teresa” faz parte de Silêncio, livro de contos inédito.



Javier Arancibia Contreras nasceu em Salvador, BA, após sua família migrar do Chile durante o período de ditadura militar, mas vive desde a adolescência em Santos, SP. Escreveu os romances "Imóbile" (Editora 7Letras, 2008), finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, e "O dia em que eu deveria ter morrido" (Editora Terceiro Nome, 2010), premiado com uma bolsa literária do Governo do Estado de São Paulo. É também roteirista de cinema e, durante os anos em que trabalhou como repórter policial, escreveu um livro-reportagem/ensaio biográfico sobre o dramaturgo Plínio Marcos ("A crônica dos que não têm voz", Boitempo Editorial, 2002).




Vanessa Barbara nasceu em junho de 1982 no bairro do Mandaqui, em São Paulo. É jornalista, tradutora e escritora. Publicou "O livro amarelo do terminal" (Cosac Naify, 2008, prêmio Jabuti de Reportagem), o romance "O verão do Chibo" (Alfaguara, 2008, em parceria com Emilio Fraia) e o infantil "Endrigo, o escavador de umbigo" (Editora 34, 2011), ilustrado por Andrés Sandoval. Como tradutora, recentemente lançou sua versão de "O grande Gatsby" (Penguin/Companhia das Letras). É editora do site A hortaliça (www.hortifruti.org) e cronista do jornal Folha de S.Paulo. "Noites de alface" é um trecho de seu próximo romance.


Carol Bensimon nasceu em 22 de agosto de 1982, em Porto Alegre. Fez mestrado em escrita criativa na PUC-RS e viveu dois anos em Paris. Alguns de seus contos foram publicados em revistas e coletâneas. Seu primeiro livro de ficção, composto por três novelas, é "Pó de parede" (Não Editora, 2008). Em 2009, publicou pela Companhia das Letras o romance "Sinuca embaixo d’água", finalista dos prêmios São Paulo, Jabuti e Bravo!. O trecho publicado em Granta faz parte de seu novo romance, Faíscas.




Filho de pai uruguaio e mãe carioca, Miguel Del Castillo nasceu no Rio de Janeiro, formou-se em arquitetura pela PUC-Rio e mudou-se para São Paulo em 2010, onde atualmente é editor da Cosac Naify. Foi editor da revista Noz, de arquitetura e cultura, e recebeu o prêmio Paulo Britto de Poesia e Prosa com o conto “Carta para Ana”, publicado na Antologia de prosa Plástico Bolha (Editora Oito e Meio, 2010). Tem 25 anos e trabalha, atualmente, em seu primeiro livro de contos, do qual “Violeta” faz parte.



João Paulo Cuenca nasceu no Rio de Janeiro, em 1978. Participou de diversas antologias no Brasil e no exterior e é autor dos romances "Corpo presente" (Planeta, 2003), "O dia Mastroianni" (Agir, 2007) e "O único final feliz para uma história de amor é um acidente" (Companhia das Letras, 2010), publicado também em Portugal, na Espanha e na Alemanha. Em 2007, foi selecionado pelo Festival de Hay e pela organização do festival Bogotá Capital Mundial do Livro como um dos 39 autores mais destacados da América Latina com menos de 39 anos. “Antes da queda” faz parte de seu próximo romance, a ser publicado em 2013.



Laura Erber nasceu em 1979 e mora no Rio de Janeiro. É artista visual, formada em letras, com doutorado em literatura pela PUC-Rio, foi escritora em residência na Akademie Schloss Solitude de Stuttgart e no Pen Center de Antuérpia. Publicou contos e ensaios em diversas revistas e tem quatro livros de poesia, entre eles "Insones" (7Letras, 2002) e "Os corpos e os dias" (Editora de Cultura, 2008), finalista do Prêmio Jabuti na categoria poesia. Prepara um livro sobre Ghérasim Luca pela Eduerj e, atualmente, trabalha em seu primeiro romance, "Os esquilos de Pavlov", a ser publicado pela Alfaguara em 2013.


Emilio Fraia é editor de literatura da editora Cosac Naify. Publicou no Brasil autores como Enrique Vila-Matas, Antonio Tabucchi, Macedonio Fernández e William Kennedy. Nasceu em São Paulo em 1982. Como jornalista, foi repórter das revistas Piauí e Trip. Escreveu, em parceria com Vanessa Barbara, o romance "O verão do Chibo" (Alfaguara, 2008), finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, e atualmente termina a graphic novel "Campo em branco" (Companhia das Letras) com o ilustrador DW Ribatski.



Julián Fuks nasceu em novembro de 1981, em São Paulo. Filho de pais argentinos, foi repórter da Folha de S. Paulo e resenhista da revista Cult, além de publicar contos em diversas revistas e na antologia Primos: histórias da herança árabe e judaica (Record, 2010). É autor de "Fragmentos de Alberto, Ulisses, Carolina e eu" (7Letras, 2004), "Histórias de literatura e cegueira {Borges, João Cabral e Joyce}" (Record, 2007), finalista dos prêmios Portugal Telecom e Jabuti, eProcura do romance (Record, 2011).



Daniel Galera nasceu em 1979, em São Paulo, mas passou a maior parte da vida em Porto Alegre. É um dos criadores da editora Livros do Mal, pela qual publicou o volume de contos "Dentes guardados" (2001). É autor dos romances "Até o dia em que o cão morreu" (Livros do Mal, 2003), adaptado para o cinema, "Mãos de cavalo" (Companhia das Letras, 2006), publicado também na Itália, na França, em Portugal e na Argentina, e "Cordilheira" (Companhia das Letras, 2008), vencedor do Prêmio Machado de Assis de Romance, da Fundação Biblioteca Nacional. Em conjunto com o desenhista Rafael Coutinho, publicou em 2010 a graphic novel "Cachalote". “Apneia” faz parte de um romance em andamento.



O livro de estreia de Luisa Geisler — Contos de mentira(Record, 2011) — foi escolhido pelo Prêmio SESC de Literatura 2010/2011 na categoria conto. No ano seguinte, o mesmo prêmio escolheu sua novela de estreia — "Quiçá" (Record, 2012) — na categoria romance. Atualmente, ela é colunista da página final da revista Capricho. Luisa nasceu em 1991 em Canoas, RS. Contudo, passa boa parte do seu tempo em Porto Alegre, estudando Ciências Sociais (UFRGS) e Relações Internacionais (ESPM/RS), e escrevendo sentada no chão do metrô.



Vinicius Jatobá nasceu em 1980, no Rio de Janeiro. É mestre em Estudos de Literatura pela PUC-Rio e estudou roteiro e direção na New York Film Academy (NYFA). Como crítico literário, colabora com os suplementos “Sabático” (O Estado de S. Paulo), “Prosa & Verso” (O Globo) e na revista Carta Capital. Participou com contos na antologia Prosas Cariocas(Casa da Palavra) e no catálogo de cinema 68 Cinema Utopia Revolução (Caixa Cultural São Paulo). Publicou ficção, crônicas e jornalismo em sites e revistas como EntreLivros, NoMínimo, Rascunho e Terra Magazine, onde foi colunista de livros e de cinema. Escreveu e dirigiu diversos curtas, entre eles "Alta Solidão" (2010) e "Vida entre os mamíferos" (2011). Trabalha em seu primeiro romance, "Pés Descalços", e finaliza a reunião de contos "Apenas o vento", de onde “Natureza--Morta” foi retirado.



Escritor e jornalista, Michel Laub publicou cinco romances, todos pela Companhia das Letras. Entre eles, "Longe da água" (2004), publicado também na Argentina (EDUCC), "O segundo tempo" (2006) e "Diário da queda" (2011), que teve os direitos vendidos para o cinema, recebeu os prêmios Brasília e Bravo/Bradesco e sairá na Alemanha (Klett-Cotta), Espanha (Mondadori), França (Buchet/Chastel) e Inglaterra (Vintage). Nasceu em Porto Alegre, em 1973, e vive atualmente em São Paulo.




Ricardo Lísias nasceu em 1975, em São Paulo. É autor de "Anna O. e outras novelas" (Globo), finalista do Prêmio Jabuti de 2008, "Cobertor de estrelas" (Rocco), traduzido para o espanhol e o galego, "Duas praças" (Globo), terceiro colocado no Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira de 2006, e "O livro dos mandarins" (Alfaguara), finalista do Prêmio São Paulo de Literatura de 2010, atualmente sendo traduzido para o italiano. Em 2012, publicou o romance "O céu dos suicidas" (Alfaguara). Seus textos já foram publicados também na revista Piauí e nas edições 2 e 6 de Granta em português.




Chico Mattoso nasceu na França, em 1978, mas sempre viveu em São Paulo. Formado em  letras pela USP, foi um dos editores da revista Ácaro e tem textos publicados em diversos jornais e revistas. Longe de Ramiro (Editora 34, 2007), seu primeiro romance, foi finalista do prêmio Jabuti. Em 2011, publicou pela Companhia das Letras seu segundo livro, "Nunca vai embora". Também trabalha como roteirista. Mora atualmente em Chicago, onde estuda escrita dramática na Northwestern University.



Antonio Prata nasceu em 1977, em São Paulo, e tem nove livros publicados, entre eles "Douglas" (Azougue Editorial, 2001), "As pernas da tia Corália" (Objetiva, 2003), "Adulterado" (Moderna, 2009) e, mais recentemente, "Meio intelectual, meio de esquerda" (Editora 34,2010), que reúne crônicas publicadas em jornais e revistas. Mantém uma coluna às quartas no caderno “Cotidiano” do jornal Folha de S.Paulo e escreve para televisão.



Carola Saavedra nasceu no Chile, em 1973, mas aos três anos de idade se mudou para o Brasil. Morou na Espanha, na França e na Alemanha, onde concluiu um mestrado em comunicação. Vive atualmente no Rio de Janeiro. É autora do livro de contos "Do lado de fora" (7Letras, 2005) e dos romances "Toda terça" (2007), "Flores azuis" (2008 — eleito melhor romance pela Associação Paulista de Críticos de Arte) e "Paisagem com dromedário" (2010 —Prêmio Rachel de Queiroz na categoria jovem autor), publicados pela Companhia das Letras.



Tatiana Salem Levy é escritora, tradutora e doutora em estudos de literatura pela PUC-Rio. É autora do ensaio "A experiência do fora: Blanchot, Foucault e Deleuze" (Civilização Brasileira, 2011) e dos romances "A chave de casa" (Record, 2007) — vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura, categoria romance de estreia, e publicado também em Portugal, França, Espanha, Itália, Turquia e Romênia — e "Dois rios" (Record, 2011), que sairá em breve em Portugal e na Itália. Nasceu em Lisboa, em 1979, e vive no Rio de Janeiro.



Leandro Sarmatz vive em São Paulo desde 2001, onde trabalhou nas editoras Abril e Ática, e atualmente trabalha na Companhia das Letras, editando, entre outros autores, Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava e Otto Lara Resende. É poeta, contista, dramaturgo e nasceu em Porto Alegre em 1973. Mestre em Teoria Literária, é autor da peça "Mães & sogras" (IEL, 2000), dos poemas de "Logocausto "(Editora da Casa, 2009) e dos contos reunidos em "Uma fome" (Record, 2010).



Ficcionista nascido em 1984, em Porto Alegre, Antônio Xerxenesky formou-se em letras e é mestre em literatura comparada pela UFRGS. Colabora com resenhas e críticas para diversos jornais e revistas e foi um dos fundadores da Não Editora, em 2007, por onde lançou seu primeiro romance, "Areia nos dentes", em 2008. Seu livro mais recente é a coletânea de contos "A página assombrada por fantasmas", editado pela Rocco em 2011. O texto selecionado faz parte de seu novo romance, "F para Welles".

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Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea

Estudando os contistas pós-utopicos ou as novas formas
da Literatura Brasileira.