"Eu estava comentando hoje mais cedo sobre a surpresa absoluta e deliciosa que foi a chegada do original dele: o Victor conversava com o passado enquanto puxava assunto com o futuro. “O amor…” era de cara um livro de ambiência e prosa muito próximas do leitor de literatura brasileira: uma crônica de saudade ambientada no Rio de Janeiro. Mas tudo isso vinha acompanhado de um approach muito contemporâneo e inventivo, configurando quase uma espécie de happening em torno de Machado, Marques Rebelo e dos cronistas canônicos da cidade. Havia um carinho por uma tradição — a crônica urbana do Rio, a história tragicômica do subúrbio, o ethos de uma sociedade mestiça (em todos os sentidos dessa palavra) — mas filtrado por uma inteligência muito aguda e informada de alguém que cresceu na internet praticando a poesia, o ensaio, o vídeo etc. O romance dele é uma síntese disso. E é um livro amoroso, na amplitude do termo. (Leandro Sarmatz, editor, poeta e escritor, editou o romance “O amor dos homens avulsos”, último livro publicado por Victor Heringer)"
Falei com o Victor Heringer poucas vezes, então não posso dizer nada muito pessoal sobre ele. Ao mesmo tempo, se todo livro tem algo da personalidade do autor – uma parte grande e importante, especialmente se o livro é bom –, falar de literatura não deixa de ser uma intimidade compartilhada. Para quem lê com atenção, muita coisa surge nessas entrelinhas: “O amor dos homens avulsos”, por exemplo, transborda um tipo de inadequação tão trágica (para quem tem de vivê-la na realidade) quanto original (para quem extrai dela a voz necessária para se expressar, na velha e sempre renovada forma romântica). A dicção estranha de algumas frases, a sensibilidade que parece de outra época (antiga como a vida no subúrbio onde se passa a história), um tom vagamente nostálgico/mítico mesmo que contrastado com a brutalidade do presente narrativo: tudo neste romance aponta para uma espécie de ideal de tempo, lugar, linguagem e afetos que não são os que temos aqui e agora. É uma forma sutil de recusa, que soa radical num texto também tão cheio de ternura, e talvez um comentário sobre quem o escreveu – seu passado, seu presente, quem sabe o seu curto futuro. (Michel Laub, escritor)
Conheci o trabalho do Victor Heringer quando me pediram que resenhasse “O amor dos homens avulsos” para a Folha de S.Paulo. Um autor tão jovem, um título com tantas ressonâncias. Vamos lá, pensei. Li o romance em uma tarde, encantada e emocionada. Cada autor, e em especial cada livro, é uma combinação única. Mas aquela era diferente, era singular de um jeito ainda mais específico. Tudo ali era harmonia e afinação, a delicadeza se sobressaindo nos detalhes. Isso é raro, e é ainda mais bonito quando se manifesta em e através de um escritor tão jovem. Havia, e ainda há, e vai continuar a haver, algo ali. Algo muito poderoso. E distinto, inimitável. Em alguma medida, os autores mais talentosos têm sempre esse algo inimitável — que os torna quem são, que os destaca, que os marca para sempre. (Camila von Holdefer, crítica literária)
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