sábado, 8 de janeiro de 2022

Sobre o jeitinho

No brasil se configurou, desde há muito tempo, a cultura do tosco, do rolo, da mutreta. Há certo asco nas coisas feitas da maneira correta, bem pensadas, planejadas. Aquele espírito aventureiro que Sérgio Buarque via em nós como herança da colonização lusitana foi se elevando para patamares cada vez maiores. Entre ladrilhadores (o pensamento racional, fruto de planejamento) e semeadores (o espírito aventureiro, aquele que deixa as coisas irem acontecendo pra ver onde vão parar), semeamos cada vez mais aquilo que é extremamente informal. Claro, afinal, fazer tudo na base do rolo é mais rápido e mais barato do que fazer as coisas como devem ser feitas. Desde motoristas entrarem direito em uma rotatória até a fiscalização de barragens, tudo é na ordem do: "se ninguém ver, se for mais barato, se der para dar um jeito, vou lá e faço". Tudo à revelia da lei, do bom senso, da razão e da segurança.
É barragem que se rompe porque os órgãos públicos não fiscalizam (fiscalizam, né...mas, tem aquele dado por fora), é avião de famosa que bate em torre de alta tensão em local irregular, são passeios turísticos que, sem nenhuma estrutura racional, colocam turistas em risco, são automóveis vendidos "pelados", sem nenhum item de segurança (o meu corsa, por exemplo, não tem nenhum airbag. Acho que isso não acontece em nenhum outro lugar do mundo), é a lógica da milícia, do despachante, do juiz que condena sem prova, do deixa que eu faço um rolo ali, que elegeu um presidente da república que é a epítome do rolo, do negocinho fajuto, da molhada de mão, da revelia à lei, do "vai custar muito caro, nem faz", do "meu jeito é melhor porque eu acho que é". Cordialidade radicalizada. O brasil, em cada aspecto, é regido pelo tosco, pelo rolo, pelo "assim é mais fácil e mais barato", do empreendedor que oferece sempre o pior (porque mais barato) pelo mais caro, que mata florestas e populações inteiras, que causa acidentes dos mais imbecis, que submete à violência e à morte sua população, que sempre contorna a coisa certa a se fazer. Do comércio da esquina à presidência da república, a regra é o tosco, o rolo, o fácil. Mesmo que essa regra nos mate há centenas de anos, essa é a regra que mais amamos.

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