sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Contos de Amor Rasgados

Marina Colasanti escreve sobre a condição de ser mulher. Em Contos de Amor Rasgados, um aspecto do feminino sempre vem à tona: o poder e a força latente da mulher. O universo feminino é abordado em vários aspectos, como no relacionamento homem e mulher no conto "Até que a palavra fosse possível", e no ambiente doméstico em "A honra passada a limpo". Em seu texto há um tom de denúncia quando explora o paradigma social, perpetuado por gerações, da mulher submissa e domesticada pelo casamento como no trecho “mas sem tarefas domésticas, como preencher de feminina honradez a minha vida?” Sua escrita beira a narrativa fabular e tem passagens de puro surrealismo: “criava uma sereia na banheira”("De água nem tão doce")

Simei Cristina de Andrade de Mendonça

Literatura Brasileira Hoje - Manuel da Costa Pinto

Para quem se interessa por literatura contemporânea, aconselho a leitura do pequeno livro do crítico Manuel da Costa Pinto: Literatura Brasileira Hoje, Coleção Folha Explica.

Encontrei fuçando no google um link para o ebook deste em .doc ou .pdf, para quem deseja consultá-lo, clicar AQUI.




Sérgio Santanna, sobre Amor



"Este livro contém toda a minha minúscula produção literária, excetuando-se Sexo, publicado pelas Edições Cotovia no final de 2000.

Amor é meu primeiro livro. Acho que é um poema. Foi a partir dele que passaram a me considerar escritor, embora até hoje eu não acredite nisso e nem me conforme com isso. Mas o certo é que, ao ser considerado escritor, passei a receber pedidos de textos para algumas revistas, jornais, suplementos literários, etc. E todos os demais contos deste livro foram feitos sob encomenda. Até a publicação de Amor, no final de 1997, eu ainda tentava me tornar um músico razoável. Mas, quando percebi que os Rolling Stones nunca me convidariam para entrar na banda, e que algumas pessoas viam alguma qualidade nos meus textos, tive que me conformar com a literatura."

E literatura é um negócio muito chato de fazer. Tem que ter aquela disciplina insuportável, aquela solidão doentia, aquele diálogo egocêntrico consigo mesmo e mais um monte de angústias desnecessárias ao bem estar humano. Então, decidi escrever como se fizesse música, sem esquentar demais a cabeça, procurando me divertir ao máximo, trabalhando o mínimo. Espero que os leitores consigam tirar algum prazer na leitura desses contos e também possam lê-los como se ouvissem música, pois cada um deles tem melodia, harmonia e ritmo próprios, nos sentidos mais literais das palavras. Pelos menos, tentei.

Nota de Abertura

Mais informações, resenha e entrevista (Revista Rascunho), clique




sábado, 17 de outubro de 2009

De água nem tão doce

Criava uma sereia na banheira. Trabalho, não dava nenhum, só a aquisição de peixes com que se alimentava. Mansa desde pequena, quando colhida em rede de camarão, já estava treinada para o cotidiano da vida entre azulejos.
Cantava melopéias, a princípio. Que aos poucos, por influência do rádio que ele ouvia na sala, foi trocando por músicas de Roberto Carlos. Baixinho, porém, para não incomodar os vizinhos.
Assim se ocupava. E com os cabelos, agora pálido ouro, que trançava e destrançava sem fim. “Sempre achei que sereia era loura”, dissera ele um dia trazendo tinta e água oxigenada. E ela, sem sequer despedir-se dos negros cachos no reflexo da água da banheira, começara a passar o pincel.
Só uma vez, nos anos todos em que viveram juntos, ele a levou até a praia. De carro, as escamas da cauda escondidas debaixo de uma manta, no pescoço a coleira que havia comprado para prevenir um recrudescer do instinto. Baixou um pouco o vidro, que entrasse ar de maresia. Mas ela nem tentou fugir. Ligou o rádio, e ficou olhando as ondas, enquanto flocos de espuma caíam dos seus olhos.

Marina Colasanti





[Inspirado no conto "De água nem tão doce", de "Contos de Amor Rasgados", obra de Marina Colasanti. Criação e interpretação de Laura Virginia.]

NUNCA É TARDE, SEMPRE É TARDE

Conseguiu aprontar-se mas não teve tempo de guardar o material de maquiagem espalhado sobre a penteadeira. Olhou-se no espelho. Nem bonita, nem feia. Secretária. Sou uma secretária, pensou, procurando conscientizar-se. Não devo ser, no trabalho, nem bonita, nem feia. Devo me pintar, vestir-me bem, mas sem exagero. Beleza mesmo é pra fim-de-semana. Nem bonita, nem feia, disse consigo mesma. Concluiu que não havia tempo nem para o café. Cruzou a sala e o hall em disparada, na direção da porta de saída, ao mesmo tempo em que gritava para a mãe envolvida pelos vapores da cozinha, eu como alguma coisa lá mesmo. Sempre tal alguém com alguma bolachinha disponível. Café nunca falta. A mãe reclamou mais uma vez. Você acaba doente, Su. Assim não pode. Assim, não. Su, enlouquecida pela pressa, nada ouviu. Poucas vezes ouvia o que a mãe lhe dizia. Louca de pressa, ia sair, avançou a mão para a maçaneta da porta e assustou-se. A campainha tocou naquele exato momento. Quem haveria de ser àquela hora? A campainha era insistente. Algum dedo nervosos apertava-a sem tréguas. A campainha. Su acordou finalmente com o tilintar vibrante do despertar Westclox e se deu conta de que sequer havia se levantado. Raios. Tudo por fazer. Mesmo que acordasse em tempo, tinha sempre que correr, correr. Tinha tudo cronometrado, desde o levantar-se até o retoque do batom e o perfumezinho final. Exploit da Atkinsons. Perfume quente. Mais ou menos quente. Esqueceu onde havia deixado o relógio de pulso . Perambulou nervosamente pela casa procurando-o. Atrasou alguns preciosos minutos. A mãe achou-o sobre a mesinha do telefone. Su colocou-o no pulso. Viu as horas. Havia conseguido aprontar-se, mas não teve tempo de guardar o material de maquiagem espalhado sobre a penteadeira. Olhou-se no espelho. Nem bonita, nem feia, pensou duas vezes. Vou ficar bonita mesmo só no sábado. Não havia tempo nem para o café. Cruzou em disparada a sala e o hall, em direção à porta de saída, ao mesmo tempo em que gritava para a mãe, bolachinha disponível. Avançou a mão para a fechadura e assustou-se com o toque insistente da campainha. Algum dedo nervoso. O Westclox. Su acordou e deu-se conta mais uma vez da trágica e permanente verdade de que ainda não estava pronta(!) Levantou-se de um ímpeto. Correu ao banheiro, voltou do banheiro, vestiu-se com a roupa estrategicamente deixada sobre a cadeira na noite anterior. Ao sentar-se mais uma vez frente ao espelho, notou que, embora não tivesse ainda se pintado, o material de maquiagem já estava espalhado sobre a penteadeira. O batom aberto e usado, o Exploit desastradamente destampado, evaporando. O despertador tocou novamente. Ou tocou finalmente. E estava com toda corda, pois demorou a silenciar. Mesmo assim, Su andou pela casa toda, tentando desesperadamente acordar-se. Ocorreu afinal a idéia de pedir ajuda à mãe. Esta, envolvida pelos vapores da cozinha, mostrou-se compreensiva. Está bem, Su. Espere só um instantinho que eu vou lá no quarto te acordar.


Silvio Fiorani

Victor Giudice
























(1934-1997)

MICROCONTOS


Bodas de Ouro

Foi só na volta do cemitério, depois de meio século de vida conjugal, que o viúvo percebeu como se cometia um crime perfeito.

(in SALVADOR JANTA NO LAMAS - Editora José Olympio, 1989)

As Três Marias

Com a morte de Socorro, José respirou satisfeito: enfim, poderia casar-se com Prazeres. Com a morte de Prazeres, José respirou satisfeito: enfim, poderia casar-se com Graça. Com a morte de José, Graça respirou satisfeita: José tinha ficado um velho sem graça, sem prazeres, sem socorro.

[Alto da Página]

(in SALVADOR JANTA NO LAMAS - Editora José Olympio, 1989)


Relatividade em nome de Borges

Durante uma das primeiras apresentações da ópera Turandot, ocorreu um fato desconcertante. Quando o povo de Pequim, num coral soberbo, desejou dez mil anos de vida ao Imperador, ele interrompeu o espetáculo e mandou fuzilar todos os componentes do coro: há trezentos e sessenta e quatro dias, o monarca havia completado nove mil, novecentos e noventa e nove anos de idade.

(in O MUSEU DARBOT E OUTROS MISTéRIOS - Leviatã Publicações, 1994)

O Banquete

Foram três mil noites para três mil dores, mas assim que o enterro saiu, ela trancou a porta, assou o robalo e devorou-o entre as liberdades do vinho branco, pois era a melhor maneira de festejar a morte do marido e cicatrizar as feridas.

(in OS BANHEIROS - Editora Codecri, 1979)

O arquivo

No fim de um ano de trabalho, joão obteve uma redução de quinze por cento em seus vencimentos. joão era moço. Aquele era seu primeiro emprego. Não se mostrou orgulhoso, embora tenha sido um dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se. Não tivera uma só falta ou atraso. Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe.
No dia seguinte, mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade. Com o salário reduzido, podia pagar um aluguel menor.
Passou a tomar duas conduções para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição.
Dois anos mais tarde, veio outra recompensa.
O chefe chamou-o e lhe comunicou o segundo corte salarial.
Desta vez, a empresa atravessava um período excelente. A redução foi um pouco maior: dezessete por cento.
Novos sorrisos, novos agradecimentos, nova mudança.
Agora joão acordava às cinco da manhã. Esperava três conduções. Em compensação, comia menos. Ficou mais esbelto. Sua pele tornou-se menos rosada. O contentamento aumentou.
Prosseguiu a luta.
Porém, nos quatro anos seguintes, nada de extraordinário aconteceu.
joão preocupava-se. Perdia o sono, envenenado em intrigas de colegas invejosos. Odiava-os. Torturava-se com a incompreensão do chefe. Mas não desistia. Passou a trabalhar mais duas horas diárias.
Uma tarde, quase ao fim do expediente, foi chamado ao escritório principal.
Respirou descompassado.
— Seu joão. Nossa firma tem uma grande dívida com o senhor.
joão baixou a cabeça em sinal de modéstia.
— Sabemos de todos os seus esforços. É nosso desejo dar-lhe uma prova substancial de nosso reconhecimento.
O coração parava.
— Além de uma redução de dezesseis por cento em seu ordenado, resolvemos, na reunião de ontem, rebaixá-lo de posto.
A revelação deslumbrou-o. Todos sorriam.
— De hoje em diante, o senhor passará a auxiliar de contabilidade, com menos cinco dias de férias. Contente?
Radiante, joão gaguejou alguma coisa ininteligível, cumprimentou a diretoria, voltou ao trabalho.
Nesta noite, joão não pensou em nada. Dormiu pacífico, no silêncio do subúrbio.
Mais uma vez, mudou-se. Finalmente, deixara de jantar. O almoço reduzira-se a um sanduíche. Emagrecia, sentia-se mais leve, mais ágil. Não havia necessidade de muita roupa. Eliminara certas despesas inúteis, lavadeira, pensão.
Chegava em casa às onze da noite, levantava-se às três da madrugada. Esfarelava-se num trem e dois ônibus para garantir meia hora de antecedência. A vida foi passando, com novos prêmios.
Aos sessenta anos, o ordenado equivalia a dois por cento do inicial. O organismo acomodara-se à fome. Uma vez ou outra, saboreava alguma raiz das estradas. Dormia apenas quinze minutos. Não tinha mais problemas de moradia ou vestimenta. Vivia nos campos, entre árvores refrescantes, cobria-se com os farrapos de um lençol adquirido há muito tempo.
O corpo era um monte de rugas sorridentes.
Todos os dias, um caminhão anônimo transportava-o ao trabalho. Quando completou quarenta anos de serviço, foi convocado pela chefia:
— Seu joão. O senhor acaba de ter seu salário eliminado. Não haverá mais férias. E sua função, a partir de amanhã, será a de limpador de nossos sanitários.
O crânio seco comprimiu-se. Do olho amarelado, escorreu um líquido tênue. A boca tremeu, mas nada disse. Sentia-se cansado. Enfim, atingira todos os objetivos. Tentou sorrir:
— Agradeço tudo que fizeram em meu benefício. Mas desejo requerer minha aposentadoria.
O chefe não compreendeu:
— Mas seu joão, logo agora que o senhor está desassalariado? Por quê? Dentro de alguns meses terá de pagar a taxa inicial para permanecer em nosso quadro. Desprezar tudo isto? Quarenta anos de convívio? O senhor ainda está forte. Que acha?
A emoção impediu qualquer resposta.
joão afastou-se. O lábio murcho se estendeu. A pele enrijeceu, ficou lisa. A estatura regrediu. A cabeça se fundiu ao corpo. As formas desumanizaram-se, planas, compactas. Nos lados, havia duas arestas. Tornou-se cinzento.
João transformou-se num arquivo de metal.

Victor Giudice


Marina Colasanti

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Miguel e os demônios



       
Miguel e os Demônios é o quinto romance de Lourenço Mutarelli, segundo pela Companhia das Letras, sua nova casa. O autor começou nas HQ's, na década de 90, tendo como principal personagem o detetive Diomedes.


Em 2006 teve seu livro O Cheiro do Ralo adaptado para o cinema, e, para este mesmo formato, escreve agora Miguel e os Demônios, ou As delícias da desgraça. E é sobre a desgraça de um policial que o livro trata: Miguel, homem divorciado, volta a morar com o pai, namora uma manicure pobre e feia, e acaba se apaixonando de maneira fatal por um travesti.


Miguel sofre com as moscas e os remorsos de um "serviço por fora" que teve que cumprir: sumir com quatro jovens delinquentes a pedido dos donos de comércios da região. O assassinato dos garotos corrói a mente do policial, assim como as lembranças de um cadáver em putrefação de um cão que Miguel presenciou ainda quando criança.


Após conhecer o travesti, Miguel abandona a namorada, e passa a conviver com forças ocultas em sua vida, como o aparecimento repentino de uma múmia mexicana, uma possessão demoníaca e um voluptuoso desejo de matar um pedófilo da maneira mais cruel que puder. As forças que agem sobre Miguel são desconhecidas e muito além do seu controle.


Lourenço Mutarelli vem estudando a demonologia há certo tempo. Se em seu livro anterior, A Arte de Produzir Efeito Sem Causa, a presença das forças malignas somente é sugerida para quem acompanha o drama de Junior, neste livro a cena da possessão do Dr. Carlos, o delegado patrão de Miguel, não deixa dúvida sobre sua intenção de causar choque e arrebatamento no leitor.


O livro foi escrito como um roteiro de cinema. O leitor percebe as demarcações de fotografia e os cortes de cena capítulo a capítulo. Um grande desafio para o diretor e os atores: transformar esta narrativa noir em um longa-metragem digerível para o público, que agrida sua fé e suas convicções sobre a origem do Mal. Mas só um pouco, só o suficiente.
       
Acompanhe o blog do autor, no qual ele fala sobre possessão, seu retorno à bebida, sobre Willian Burroughs & outras leituras: www.lourencomutarelli.blogspot.com/


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Resenha/colaboração de Lucas de Sena Lima:








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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Estive em Lisboa e lembrei de você
























Estive em Lisboa e lembrei de você, de Luiz Ruffato, é o terceiro livro da série Amores Expressos, idealizada por Rodrigo Teixeira em parceria com a editora Companhia das Letras, cuja proposta é contar uma história de amor que tenha como pano de fundo uma das 17 cidades escolhidas pelos coordenadores do projeto. Nesta obra Ruffato opta por uma narrativa em primeira pessoa, como se fosse um diário escrito pelo personagem mineiro Sérgio, que decide deixar casamento e emprego mal-sucedidos para tentar ganhar a vida em Portugal.

Os longos parágrafos e orações revelam, na primeira parte do livro, os planos de sair do Brasil e voltar com dinheiro suficiente para comprar imóveis na pequena cidade de Cataguases (também cidade natal de Ruffato) e viver de renda, matando de inveja a todos os que um dia o maldisseram. Em alguns momentos, o excesso de descrição dos elementos da cidade, como nome de ruas, escolas e moradores torna a leitura enfadonha, principalmente para quem não a conhece. Entretanto, o autor consegue manter um ritmo equilibrado quando mistura relatos passados com o momento presente e prioriza os detalhes da viagem como o processo para tirar passaporte, quanto dinheiro levar, onde se hospedar e conseguir emprego, o que torna o texto mais fidedigno pois são preocupações reais de quem pensa em sair do país.

Ao chegar em Lisboa, Sérgio percebe que nada será tão fácil como imaginou e quem lê o livro pode quase sentir o arrependimento e o sentimento de frustração daquele imigrante na Europa, debaixo das cobertas num quarto de hotel, como narra o autor. Interessante notar que, no decorrer do livro, ocorre uma transformação de linguagem à medida que Sérgio, quando ainda está no Brasil, usa expressões tipicamente mineiras e no período que está em Lisboa sua fala muda aos poucos e passa a utilizar palavras portuguesas como puto (menino), autocarro (ônibus), entre outras, mesmo se tratando de um relato pessoal em que dialoga consigo mesmo.

Ruffato demonstra não estar tão preso à proposta do projeto, pois não aborda de forma clara nenhum relacionamento amoroso ou mesmo faz menções ao amor. Quem está acompanhado a série Amores Expressos, provavelmente ficará na dúvida se o amor é pela esposa louca e pelo filho pequeno que deixa no Brasil, pela cidade de Cataguases, pela prostituta com quem se envolve e a ajuda a ponto de perder seu passaporte ou por si mesmo, enquanto busca melhorar de vida, mesmo que para isso tenha que mudar de país.

Lucas Guedes

http://condussao.blogspot.com/

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sobre Luiz Ruffato









Definição do escritor Luiz Ruffato a partir da leitura do ensaio Diligências num caleidoscópio, de Samanta Simões Braga.


"A linguagem parece ser o meio e o fim da narrativa de Luiz Ruffato, já que o realismo exacerbado de seu texto destaca-se mais pela forma do que pelo conteúdo que nos é apresentado. O autor constrói sua narrativa a partir de fragmentos da vida urbana, os quais, vistos em profundidade, separadamente, e depois em conjunto, viabiliza a compreensão do todo. " [Simei]


"Luiz Ruffato é comparado a um bricoleur, termo emprestado pela crítica ao “escritor que constrói seu texto a partir de fragmentos”. Sua literatura – apresentada no recorte do romance eles eram muito cavalos - caracteriza-se pelo registro não aleatório de imagens (cidade de SP), escolhidas por um olhar não detalhista, mas observador. Dessa forma, o autor consegue reorganizar conceitos da vida moderna reconstruindo seus significados. [Inês Viturino Barbosa]




terça-feira, 6 de outubro de 2009

Jogo de Cena





















































Um filme para nos ajudar a pensar os limites entre o real, o confessional e a ficção. Gênero em suspensão (ou sob suspeita), ruptura do pacto narrativo com quebras brechtianas. Documentário sobre a mulher, o fingimento, a verdade, o encenar, o mentir, o dissimular e o interpretar. Um anti big brother: a atriz no papel da anônima, a atriz exposta em sua carnalidade. Na simulação da dor alheia, a traição do espectador. Enganá-lo como arte de fazê-lo melhor ver. No final, poucas respostas, nenhum desvendamento. Pessoas se encenam, contam-se. "Narrativizamos" nossa história à maneira das telenovelas. O que cabe ao autor contemporâneo: o mergulho num subjetivismo que falseia? A construção de um outro personagem com que mostrar-se?


Eduardo de Araújo Teixeira


domingo, 4 de outubro de 2009

O filho da mãe, de Bernardo Carvalho

























“Não pode haver guerra sem mães”, diz Marina Bóndareva, uma das personagens-chave de “O Filho da Mãe”, o mais recente e comovente romance de Bernardo Carvalho. Marina milita no Comitê das Mães dos Soldados de São Petersburgo, uma organização humanitária, destinada a auxiliar, como diz o nome, mulheres russas em busca de seus filhos – presos, perdidos, desaparecidos ou mortos.

Um romance sobre mães e filhos na Rússia? O tema não causa espanto a quem acompanha a trajetória de Carvalho. O deslocamento territorial é um elemento essencial em sua prosa – uma espécie mesmo de bandeira, acredito, contra a literatura que se orgulha do seu caráter nacional, arraigada a brasileirismos ou regionalismos.

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Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea

Estudando os contistas pós-utopicos ou as novas formas
da Literatura Brasileira.